3ª edição da Semana da Psicologia da FAACZ é sucesso de público

Do dia 23 a 27 de agosto, a FAACZ realizou a 3ª edição da Semana da Psicologia. O evento foi aberto ao público em geral e aconteceu de forma remota pela plataforma Teams da Microsoft. “Perspectivas Foucaultianas e os dias atuais” foi o tema central desta edição.

 

A Conferência de Abertura foi ministrada pela professora da FAACZ, Danielle Guss, que abordou o tema “Governo e Biopolítica: Reflexões com Michael Foucault e Giorgio Agamben”. Segundo Danielle, Foucault e Agamben pensaram o governo, produzindo políticas de vida e extermínio.

 

“Com o livro Vigiar e Punir Foucault começa a entender o que acontece nas instituições disciplinares, além das prisões. Afinal, a burguesia da época precisava de um tipo de homem que fosse capaz de suportar a ordem política vigente e quais os efeitos do poder sobre os indivíduos”, pontuou a palestrante da noite.

 

Danielle explicou que a Psicologia surgiu com a finalidade de administrar sujeitos, enquadrá-los, etc. Fotos: Divulgação.

Na ocasião, a docente explicou sobre biopoder (poder que incide sobre a vida), biopolítica (técnicas pela qual o estado regula a vida da população – governamentalidade), dentre outros assuntos. Ainda de acordo com a palestrante, as principais diferenças entre Foucault e Agamben é que o primeiro defendia a biopolítica, enquanto o segundo falava sobre o estado de exceção, abandono, bando, etc.

 

Danielle finalizou explicando que a Psicologia surgiu nesse campo com a finalidade de administrar sujeitos, enquadrá-los, normatizá-los, atendendo aos apelos das instituições disciplinares, consequentemente, atendendo ao apelo de um modo de governar.

 

No dia 24 de agosto, professores, estudantes e profissionais da área de Psicologia e Saúde puderam conversar com a psicóloga e doutoranda da UFES Geane Uliana Miranda, que abordou o livro “Vigiar e Punir”.

 

“Neste livro Foucault está se referindo a sociedade europeia, pegando exemplos franceses. Então, quando ele diz que o suplício foi extinto no Século XVIII, ele está falando da França. Isso porque, é importante lembrar que no Brasil, a Lei Áurea foi assinada somente em 1888 e o suplício dos negros escravizados era comum, a exemplo do Pelourinho, que servia como castigo físico público”, destacou a doutoranda.

 

Segundo Geane, Foucault rompe com as concepções do termo poder e o define como uma rede onde todos os indivíduos estão envolvidos, como gestores e receptores, dando vida e movimento a essas relações. “Para ele, o poder não pode ser localizado e observado numa instituição determinada ou no Estado. O poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um governante, como vemos na compreensão política”, explicou a psicóloga.

 

Na obra “Vigiar e Punir”, Foucault faz um estudo sobre a evolução histórica da legislação penal.

Ainda de acordo com Geane, na obra “Vigiar e Punir”, Foucault faz um estudo científico sobre a evolução histórica da legislação penal e os métodos coercitivos e punitivos, adotados pelo poder público nas formas de repressão. Métodos que vão desde a violência física até instituições correcionais.

 

Logo depois do minicurso sobre o livro de Foucault, os participantes da Semana da Psicologia conversaram com a psicóloga e psicoterapeuta esquizoanalista Angela Vieira da Silva, sobre “Foucault, corpos, danças, resistência”.

 

Na ocasião, a psicóloga e psicoterapeuta falou sobre a representação da mulher na Literatura e na Arte durante décadas e séculos, no âmbito de várias sociedades, no Oriente e Ocidente.

 

Segundo Angela, a figura da mulher passou por um tríplice processo durante décadas e séculos.

“A figura da mulher passou por um tríplice processo durante décadas e séculos, seja no Oriente ou Ocidente, seu corpo foi analisado, qualificado e desqualificado como um corpo saturado de sexualidade, sendo integrado sob o efeito de uma patologia que lhe seria intrínseca ao campo das práticas médicas. Dessa forma, a mulher torna-se representada como bela, recatada e do lar seja na Literatura ou na Arte”, explicou Angela Vieira.

 

“Da sociedade de controle à sociedade do cansaço: implicações para Saúde Mental a partir de Michael Foucault e Byung- Chul Han” foi o tema do minicurso ministrado pela professora da FAACZ Flávia Moreira Marchiori, no dia 25 de agosto. Na ocasião, Flávia falou sobre a Sociedade do Espetáculo, a Sociedade de Consumo e a Sociedade do Cansaço.

 

“Consome-se o espetáculo, cultua-se o espetáculo do consumo: tênue válvula de escape para o sonho da liberdade. Ao consumir miramos na expressividade simbólica da mercadoria, ou, simplesmente, em qual espetáculo que ela pode proporcionar”, afirmou a docente da FAACZ.

 

Segundo Flávia, para Han a sociedade do Século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade do desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos.

 

Na ocasião, Flávia falou sobre a Sociedade do Espetáculo, a de Consumo e a do Cansaço.

“Partindo da psicanálise, da filosofia existencialista e de análises sociológicas, Han tenta entender o vínculo entre os transtornos mentais e adoecimento psíquico comuns em nosso tempo, como a síndrome de burnout, a depressão e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), com o ritmo de vida que a nossa sociedade cobra das pessoas”, destacou a professora da FAACZ.

 

No dia 26 de agosto, a professora Danielle Guss abordou o tema “O cuidado de si como prática de liberdade em Michael Foucault” durante um minicurso que contou com a presença de professores, estudantes e profissionais da área da Psicologia e Saúde.

 

Segundo a docente da FAACZ, Foucault movido pela inquietação pergunta de como fazer da vida uma obra de arte. Pensa como se dão os jogos de verdade e as relações de poder.

 

De acordo com a prof.ª Danielle, Foucault pergunta: como fazer da vida uma obra de arte?

“Ao se debruçar sobre a ética na Grécia antiga ele encontra definições sobre ética e moral e descobre que os indivíduos sozinhos ou com a ajuda de outros, faz um certo número de operações sobre o seu corpo e sua alma, seus pensamentos, suas condutas, seu modo de ser, transformando-se, por fim, para obter um estado de felicidade, sabedoria ou imortalidade, por exemplo”, pontuou a professora Danielle.

 

A 3ª edição da Semana da Psicologia da FAACZ terminou com o minicurso ministrado pela professora da Faculdade Vale do Cricaré (FVC) Fernanda Pinto Tassis, abordando o tema “O nascimento da Medicina Social”. Segundo a professora Fernanda, Foucault não via a medicina grega como sendo coletiva e social.

 

“Na segunda metade do Século XIX, que se colocou o problema do corpo, da saúde e do nível da força produtiva dos indivíduos. A medicina social tem em sua formação três etapas: medicina de Estado, medicina urbana e medicina da força de trabalho. Sendo assim, a medicina moderna é individual porque está associada ao capitalismo, ao mercado. O social se refere a algo bom. Para Foucault a medicina moderna e social tem como pano de fundo a tecnologia do corpo social”, afirmou a prof.ª Fernanda.  

 

Dessa forma, o controle da sociedade sobre o indivíduo não se opera simplesmente pela consciência ou pela ideologia, mas começa pelo corpo. A medicina é, portanto, uma estratégia biopolítica. Desde o final do Século XVI e começo do Século XVII todas as nações do mundo europeu se preocuparam com o estado de saúde de sua população”, explicou a docente da FVC.

 

Ainda de acordo com a palestrante: “A medicina urbana é a medicina das coisas e surgiu na Alemanha e a medicina social é a medicina dos pobres e surgiu na Inglaterra. O que se encontra antes da grande medicina clínica, do Século XIX, é uma medicina estatizada ao máximo. A medicina moderna tem como objetivos analisar lugares de acúmulo e amontoamento de pessoas, controle de circulação de água e ar, mostrando um certo conflito entre a medicina e outros tipos de poder, etc”, destacou.

 

Segundo a prof.ª Fernanda, para Foucault a medicina moderna tem como pano de fundo o corpo social.

Fernanda finalizou dizendo que: “Segundo Foucault a medicina se torna, portanto, um controle da saúde e do corpo das classes mais pobres para torná-las mais aptas ao trabalho e menos perigosas às classes ricas. Dessa forma, a medicina social inglesa teve futuro porque ligou três coisas: assistência médica ao pobre; controle da saúde e da força de trabalho; esquadrinhamento da saúde pública. Hoje, temos três sistemas médicos coexistentes: medicina assistencial, administrativa e privada”.

 

Veja a opinião dos universitários da FAACZ sobre a Semana da Psicologia.

 

“Muito bom, me ajudou muito a adquirir mais conhecimento. Feliz por isso”. Angela Maria Rudio – 2º período.

 

“Foi incrível, as palestras foram ótimas. Todos os temas abordados foram muito interessantes”. Luíza Dias Segatto – 4º período.

 

“Encontro maravilhoso. Importantes reflexões sobre o corpo e suas potencialidades”. Elizangela Nogueira Rocha – 6º período.

 

Texto: Alessandro Bitti
E-mail: comunicacao@fsjb.edu.br
alessandro@fsjb.edu.br
 

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